Televisão comentada: a cena da novela, bastidores, análises sobre as estratégias das TVs, dicas de programas, críticas profundas ou rasas, tudo e qualquer coisa, pois tudo cabe na TV.

terça-feira, 19 de junho de 2012

MEU CORAÇÃO ATEU QUASE ACREDITOU



Ontem, 18 de junho, estreou a nova versão de Gabriela na Globo, adaptação do romance Gabriela Cravo e Canela, de Jorge Amado. Com certeza será um grande sucesso de público. A marca Gabriela é muito forte no país. Mérito de seu criado, sem dúvida, mas também se deve pensar em mérito da própria Globo, que ajudou muito a popularizar o romance. Aliás, parte do sucesso de Jorge Amado deve ser atribuído ao grande número de adaptações de suas obras. Ele é conhecido no Brasil inteiro mais pelas novelas e filmes do que pela leitura propriamente dita. É possível se falar em fãs de Jorge Amado em vez de leitores.

Isso me lembra uma piada de Chico Anísio: Jorge Amado? Aquele carinha que escreve os filmes de Sônia Braga?

Ah! Nessa mítica de Gabriela não se pode esquecer Sônia. A atriz também contribuiu muito para a cristalização da personagem no imaginário brasileiro. Ela é a encarnação de Gabriela há décadas. Temos de lembrar, ainda, a música de Caymmi e a voz de Gal Costa, na versão televisiva. No cinema tivemos ainda Gal e Sônia, com música de Tom Jobim.

Assim, apesar do sucesso garantido, essa nova versão tem de lidar com o fantasma da anterior.

O primeiro capítulo teve muitos acertos. Há mais tecnologia e dinheiro para criar o cenário, a ambiência de Ilhéus nos anos vinte. Prédio que existem até hoje, como a prefeitura, ora inseridos por computador numa tomada aérea da cidade, muito rápida pra não denunciar o fato de que era tudo ¨falso¨. Mas é assim mesmo. Queremos a ilusão. Um segundo de computação gráfica e ficamos com a impressão de que Ilhéus ressurgiu inteira no vídeo.

Apesar de tudo isso, há reparos a fazer.

Vamos nos acostumar com Juliana Paes como Gabriela, ok, mas, para quem se lembra, fica difícil esquecer Sônia. A Gabriela de Sônia era mais natural, mas ingênua, pura. A de Juliana Paes tem um desafio no olhar, uma malícia. Se fosse uma novela de João Emanuel Carneiro, ela poderia muito bem virar a vilã mais adiante. Sabemos que isso não vai acontecer, mas a traição a Nacib com Tonico Bastos poderá ser mais condenável com esse olhar malicioso.

Aliás, o Tonico Bastos de Marcelo Serrado não está bom. O Brasil vai gostar, sem dúvida —  é um país que gostou de Crô, mas não há a sutileza do Fúlvio Stefanini. Serrado perde feio na comparação. Acho até que ele está menos convincente que Ivete Sangalo. A cantora não faz feio como anfitriã do Cabaret. Se ficar assim, será ótimo. O problema é que um personagem como esse pode render muito. Será que Ivete dá conta de cenas mais dramáticas? Por outro lado, a Maria Machadão da primeira versão, feita pela Heloisa Mafalda, também não tinha grandes reviravoltas dramáticas.

O certo é que essa Maria Machadão não é a mesma. Trata-se de outra Cafetina bem diferente. Por isso faz sentido que se tenha tirado Elizabeth Savala. O autor deve ter alterado o perfil da personagem, o que dá coerência na mudança. Se a alteração foi por necessidade dramática ou comercial, é outra história.

É uma pena não ter a Savala na novela. Ela seria uma ótima Maria Machadão da versão antiga.

Mas não se critica uma obra pelo que ela não é.

Tá! Mas ainda vou fazer mais uns comentários nesse sentido.

Tudo bem escalar o Antônio Fagundes, mas o Mauro Mendonça seria melhor.

Maité Proença será uma Sinhazinha muito mais interessante do que a Maria Fernanda, ainda mais com o Wilker como Coronel Jesuíno. O Eric Marmo é um erro de escalação em qualquer papel.

Ainda na linha elenco dos sonhos, seria uma deliciosa extravagância se a Sônia fizesse a Sinhazinha. Seria perfeito.

Pra terminar, o começo.

A cena inicial, em 1895, parecia feita na Record. Os apliques estavam dignos das minisséries bíblicas daquele canal.


quarta-feira, 16 de junho de 2010

Can you hear Lady Gaga, Fernando?



(Anotações sobre o novo clip de Lady Gaga: Alejandro)


Gaga que ser Michael Jackson

* O tom marcial do começo. MJ Fez infinitamente maior.


Gaga quer ser Madonna

* Sexo estilizado meio SM

* Religiosas eróticas (Like a Prayer)
* Soutien em forma de rifles. Madonna Já usou os Cônicos de Gautier, bem mais mortais
* Faz referências ao ABBA. Madonna já fez isso quando citou acordes da música Gimme gimme gimme.

Gaga quer ser ABBA

* A música se chama Alejandro, mas cita Fernando, outro mexicano, personagem da música homônima do grupo sueco. Fernando é uma música mais politizada. Não confundam com a versão de Perla.

* Ela usa cabelos anos 70, em forma de cuia, referências explícita à cantora do ABBA Agnetha Fältskog.

Anotações preguiçosas na medida da importância da moça.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

VIVA

Ainda sobre Manoel Carlos, parece que, de propósito, a Globo quis nos lembrar como ele pode ser bom. O mais novo canal da Globosat, o VIVA, reprisa a novela Por amor às 16:30, um Vale a pena ver de novo para assinantes. A trama é das melhores da TV e, agora que sabemos o final, é muito interessante acompanhar a construção da cena da troca dos bebês. Já postei vídeo abaixo. A personagem Maria Eduarda é apresentada em toda sua fragilidade para que se justifique o ato de sua mãe. Nessa novela, Manoel Carlos sacrificou a atriz e a personagem, odiadas pelo público, para levar avante sua trama. deveria ter feito o mesmo em Viver a vida. Ele se empolgou com Lílian Cabral e não a fez a vilã que prometia.
UGLY BETTY- Série americana inspirada no sucesso planetário Betty, la fea.
Betty tem um sobreinho, Justin, adolescente, feshionista e visivelmente gay. Há alguns episódios, após ter sido alvo de chacotas dos colegas, quando sua mãe lhe dava apoio, declarou que não era gay. surpresa!

O menino, na crise própria da idade, pensa que está gostando de uma colega. Vai beijá-la pela primeira vez no palco, numa cena da peça de ser curso de teatro. Inseguro, aconselha-se com o gay mor da série: mark. Ele lhe diz que saberá se o beijo foi bom se tudo em volta ficar preto-e-branco.

Aí... Vejam o vídeo.

De volta

O blog ficou parado todo o verão. Não tinha como atualizar com os textos que me propus fazer aqui, pois escrevia um livro. Agora, o livro pronto, recomeço. Não é mera coincidência que essa volta aconteça após o fim da novela Viver a vida. Manoel Carlos conseguiu escrever sua pior novela, sem tramas, sem conflito. As personagens, os atores, passavam todo tempo enquanto esperavam a novela acabar. triste, muito triste.

O bom é que depois do fim de uma novela, logo vem outra.

Sílvio de Abreu, um dos mais inventivos e experimentadores novelistas, entrega-nos um folhetim clássico. Mãe busca filho que pensava morto, vilões querem dinheiro...

Ufa! Habemos Vilões

sábado, 6 de março de 2010

What if

O truque do what if é muito usado na narrativa americana ou pelo menos na narrativa pop. A tradução da expressão — e se... — já explica bem de que se trata: uma hipótese a ser explorada e que de fato não aconteceu nem acontecerá. A primeira vez que vi um what if foi nas revista das Marvel. Com regularidade, alguns números trazem eventos alternativos àqueles que aconteceram na linha temporal normal e exploram outras possibilidades das personagens. Nesses histórias hipotéticas, os autores tem liberdade de explorar todo o potencial das personagens, inclusive matando-as. Um dos What if mais marcantes da Marvel foi aquele em que se investigou o que aconteceria se a Fênix, Jean Gray, não tivesse morrido na lua. A consequência foi ela se transformar numa louca superpoderosa e assassina milhões de pessoas e, depois, morrer.

Em narrativas seriadas, o what if tem o mérito de dar uma folga criativa aos autores. A Lógica é simples, nessas narrativas é preciso contar eventos e eventos na vida das personagens sem fazê-las mudar tanto ou sem esgotar seu potencial. Há muito de fazer e desfazer sem cair em transformações definitivas. Assim, para os autores o truque é um refresco. Ganha-se um episódio de liberdade criativa e não se avança nada na história.

Há pouco tempo, a série Desperate Housewives, que passa no Canal Sony às quartas, apresentou um excelente What if O episódio vem logo após um grande desastre da história: um avião cai na rua em que as donas de casa moram. Há todo um suspense para saber quem morreu ou não. O episódio explora esse suspense ao extremo. Cada uma das protagonistas, enquanto espera a notícia sobre seu ente querido (amante, marido, filha, bebê ainda por nascer), imagina o que seria seu futuro se tivesse tomado outras decisões no passado. O recurso explora outras nuances das personagens sem avançar na história e cria um suspense fabuloso.

No Brasil não lembro de nenhuma série que usou esse recurso. Lembro apenas do filme d’A grande família, que é um grande what if Nesse caso, mal usado porque faz do filme apenas um episódio maior e não uma história que avance ou que nos mostre mais das personagens.

Desperate Housewives