Televisão comentada: a cena da novela, bastidores, análises sobre as estratégias das TVs, dicas de programas, críticas profundas ou rasas, tudo e qualquer coisa, pois tudo cabe na TV.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

HELENA, HELENA, HELENA


Talvez um dia, por descuido ou fantasia
Helena, Helena, Helena...
Nos meus braços debruçou

Taiguara



Foram muitas Helenas na obra de Manoel Carlos. Lembro aqui das que vi, sem fazer pesquisa.

[Aliás, a intenção aqui é sempre escrever de maneira impressionista, baseado apenas na memória e nas minhas próprias impressões de espectador mais atento, que é só o que eu sou]

Lembro, vagamente, da Helena de Baila comigo, da Lilian Lemmertz ; das Helenas de Regina Duarte em História de amor, Por amor e Páginas da vida; Maité Proença em Felicidade, Vera Fisher em Laços de família e Christiane Torloni em Mulheres apaixonadas.

Agora, assistimos a Helena de Tais Araújo em Viver a vida. Será dela que iremos falar aqui.

Esta Helena tem o peso de ser a primeira Helena negra e Taís Araújo, a primeira atriz negra a protagonizar uma novela das oito na Globo. Ela já foi a primeira protagonista negra de novelas da Globo (da Cor do pecado) e de novelas no Brasil (Xica da Silva, na Manchete). É óbvio, então, que a atriz tem experiência no assunto. Então por que não está dando certo?

A resposta é uma só: esta não é uma Helena como as outras e essa novidade se deve principalmente ao fato d éter sido escala Taís Araújo. Pesou na configuração diferente da personagem o fato de ela ser negra e jovem. Isto acontece porque as Helenas, nos últimos tempos, são mulheres de classe social média alta, moradoras do Leblon. Ora, em sua maioria, essas mulheres não são negras. Notem que a Helena de Taís é construída como uma exceção. Trata-se de uma modelo de sucesso, uma ascensão diferenciada. Essa trajetória de exceção não é regra. A própria Taís Araújo é oriunda da classe média, estudou em bons colégios etc. Já declarou que era a única negra às vezes, portanto exceção. Mas a trajetória de sua família não foi excepcional. Não houve uma ascensão pelo futebol ou pela arte. Assim, toda a família se inseriu junta na classe média.

O ponto a que quero chegar é o seguinte: Helena sobe na vida de maneira excepcional e, por causa disso, se isola de sua família. Este é o problema da construção dessa Helena. Ela não tem uma família, um círculo social próprio. Digo isso no sentido de que esses personagens gravitem ao seu redor com histórias importantes e lhe criando problemas. Vejamos: a mãe, linda e bem instalada numa pousada em Búzios, leva uma vida tranqüila. Só agora teve um problema com o marido mais jovem e bonito. A irmã é problemática por causa do namorado meio bandido. Mas essa não é uma trama que possa fazer parte do universo de Manoel Carlos. Muito violenta. Por isso, fica na periferia da trama.

Sem família sólida, vamos ver os amigos: Ellen e Ariane, as médicas e Alice.

Ellen. Esse nome por si só já é uma sabotagem à Helena. Como é médica, fica mais no núcleo hospital, era a melhor amiga no início, mas médicos não têm vocação para melhor amigo de protagonista porque têm de trabalhar.

Ariane. Tem história própria do núcleo hospital. Mesmo problema de Helen para ser amiga de protagonista.

Alice. É o personagem orelha típico. Não trabalha e pode acompanhar a protagonista o tempo todo. Tem histórias próprias apenas como episódios. Nada profundo nem problemático. Tudo leve.

Helena podia também ter um núcleo baseado no lugar em que mora ou no lugar e trabalho. Não tem. No começo da novela era vista viajando e depois foi morar isolada no Hotel de Marcos e, por fim, na casa dele. O lugar mais próximo de seu é a pousada da mãe, em Búzios, longe da trama principal. Só agora ela tem um cenário próprio, a produtora de moda.

Sem um núcleo sólido, resta a Helena um amor.

Marcos? Era pra ser, e assim foi vendido, mas logo já se via que o amor verdadeiro seria o Bruno. Além disso, com um casamento tão rápido, é lógico que não seria o ideal. Seria preciso ter contra o amor dos dois um forte obstáculo: um vilão ou um antagonista. Esse é um problema que veremos a seguir.

Bruno? Este está se configurando como o grande amor de Helena. Eles até já se beijaram. JÁ? Não. Finalmente, talvez tarde demais. Reza a cartilha das telenovelas que o casal protagonista deve ser beija na primeira semana de novela. Depois eles são separados e só vão encontrar a paz nos últimos capítulos. Uma história de amor tardia essa, seu impacto na trama começa no meio da novela.

Toda protagonista de novela precisa de um vilão que lhe maltrate. Manoel Carlos não gosta de vilões. Vamos trabalhar com a ideia de antagonista: aquele que se opõe ao protagonista, às vezes apenas porque quer fazer algo certo que atrapalha o protagonista.

Possíveis antagonistas:

Luciana. A filha querida do pai poderia infernizar a vida de Helena, mas é protagonista de sua própria história, que domina a novela inteira e ofusca Helena.

Tereza. A ex, a mãe que sofre pela filha. Ensaiou ser vilã, mas logo mudou de foco. Concentra-se em ajudar a filha.

Dora. Era a interesseira com a filha manipuladora. A filha levou um freio do juizado de menores e Dora caiu na simpatia do público... e qual o prejuízo que helena vai ter se perder Marcos?

Marcos. Sabemos agora que pode infernizar o namoro entre Bruno e Helena. Talvez. Parece que uma nova novela começou

Sem vilões, resta uma Helena que provoque os próprios dramas. Essas são as melhores, elas cometem um deslize em nome do amor aos filhos e escondem o segredo a novela inteira. Baila comigo: Quinzinho tem um irmão gêmeo chamado João Vitor; Por amor: Helena troca os bebês.

Mas Helena sequer tem filhos. Este é um dos erros mais graves, decorrente da escalação de uma atriz jovem. A personagem não tem filhos e nem história. Na verdade, ela é inserida na história como uma intrusa. Ela é de fora e entra na família dos outros. O que o público não entende é por que uma mulher tão bem sucedida precisa entrar nessa família. O marido não vale a pena. Por que? Por que o público deve torcer por Helena ou sofre por ela? Alguém me responda, por favor.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Meu reino por um cavalo - meu intervalo comercial por um vilão que dê coices.

Nada de novo, os vilões devem perder e, na maioria dos casos, receber a punição que merecem. Assim é a lei dos telefolhetins. Entretanto, enquanto não chega a semana decisiva em que o todo-malvado é descoberto, vai preso, morre ou foge, é sem dúvida o personagem mais amado. A fórmula é simples: o mal se move, e dramaturgia é ação. É claro que os autores poderiam fazer mocinhas mais interessantes, que pretendem alguma coisa na vida, mas de nada adiantaria sem um vilão para lhes atrapalhar o caminho. O conflito.

É de conflitos que vive a ficção e também a realidade, ou os realities shows. Nesse caso, porém, os vilões duram pouco. Em uma semana podem morrer. Assim é que qualquer alteração de voz de um BBB, qualquer mancada e, zap, o público lhe conta a cabeça. Isso para desespero das TVs que sabem que o que sustenta o ibope é esse delicioso jogo de amar-odiar-alguém-que-a-gente-nem-conhece. O público não sabe adiar o desfecho do jogo até o último instante, não tem paciência. Também, é certo, tem medo de que seu favorito acabe sucumbindo num paredão.

O BBB10 está repleto de potenciais vilões, cuidadosamente escolhidos pelo Boninho: Alex e Tessália, que já saíram; Elenita, Eliane e, claro, o maior de todos: Dourado. Com essas peças, a Globo monta seu folhetim realista e dá ao público mocinhos e vilões de carne e osso. Mas nem tudo dá certo nessa combinação. Os gays, que foram colocados no jogo como lebres jogadas aos leões não estão sendo atacados. Ninguém que pretenda ganhar um milhão e meio vai se queimar por um ato de homofobia, bem diferente do que acontece nos programas de humor. Os vilões de BBB são éticos.

Se você quer ver uma pessoa má como na vida real tem de se contentar com as novelas.