Ontem, 18 de junho, estreou a nova versão de Gabriela na
Globo, adaptação do romance Gabriela Cravo e Canela, de Jorge Amado. Com certeza
será um grande sucesso de público. A marca Gabriela é muito forte no país. Mérito
de seu criado, sem dúvida, mas também se deve pensar em mérito da própria
Globo, que ajudou muito a popularizar o romance. Aliás, parte do sucesso de
Jorge Amado deve ser atribuído ao grande número de adaptações de suas obras.
Ele é conhecido no Brasil inteiro mais pelas novelas e filmes do que pela
leitura propriamente dita. É possível se falar em fãs de Jorge Amado em vez de
leitores.
Isso me lembra uma piada de Chico Anísio: Jorge Amado? Aquele
carinha que escreve os filmes de Sônia Braga?
Ah! Nessa mítica de Gabriela não se pode esquecer Sônia. A
atriz também contribuiu muito para a cristalização da personagem no imaginário
brasileiro. Ela é a encarnação de Gabriela há décadas. Temos de lembrar, ainda,
a música de Caymmi e a voz de Gal Costa, na versão televisiva. No cinema
tivemos ainda Gal e Sônia, com música de Tom Jobim.
Assim, apesar do sucesso garantido, essa nova versão tem de
lidar com o fantasma da anterior.
O primeiro capítulo teve muitos acertos. Há mais tecnologia
e dinheiro para criar o cenário, a ambiência de Ilhéus nos anos vinte. Prédio que
existem até hoje, como a prefeitura, ora inseridos por computador numa tomada
aérea da cidade, muito rápida pra não denunciar o fato de que era tudo ¨falso¨.
Mas é assim mesmo. Queremos a ilusão. Um segundo de computação gráfica e
ficamos com a impressão de que Ilhéus ressurgiu inteira no vídeo.
Apesar de tudo isso, há reparos a fazer.
Vamos nos acostumar com Juliana Paes como Gabriela, ok, mas,
para quem se lembra, fica difícil esquecer Sônia. A Gabriela de Sônia era mais
natural, mas ingênua, pura. A de Juliana Paes tem um desafio no olhar, uma
malícia. Se fosse uma novela de João Emanuel Carneiro, ela poderia muito bem
virar a vilã mais adiante. Sabemos que isso não vai acontecer, mas a traição a
Nacib com Tonico Bastos poderá ser mais condenável com esse olhar malicioso.
Aliás, o Tonico Bastos de Marcelo Serrado não está bom. O
Brasil vai gostar, sem dúvida — é um
país que gostou de Crô, mas não há a sutileza do Fúlvio Stefanini. Serrado perde
feio na comparação. Acho até que ele está menos convincente que Ivete Sangalo.
A cantora não faz feio como anfitriã do Cabaret. Se ficar assim, será ótimo. O problema
é que um personagem como esse pode render muito. Será que Ivete dá conta de
cenas mais dramáticas? Por outro lado, a Maria Machadão da primeira versão,
feita pela Heloisa Mafalda, também não tinha grandes reviravoltas dramáticas.
O certo é que essa Maria Machadão não é a mesma. Trata-se de
outra Cafetina bem diferente. Por isso faz sentido que se tenha tirado
Elizabeth Savala. O autor deve ter alterado o perfil da personagem, o que dá
coerência na mudança. Se a alteração foi por necessidade dramática ou
comercial, é outra história.
É uma pena não ter a Savala na novela. Ela seria uma ótima
Maria Machadão da versão antiga.
Mas não se critica uma obra pelo que ela não é.
Tá! Mas ainda vou fazer mais uns comentários nesse sentido.
Tudo bem escalar o Antônio Fagundes, mas o Mauro Mendonça
seria melhor.
Maité Proença será uma Sinhazinha muito mais interessante do
que a Maria Fernanda, ainda mais com o Wilker como Coronel Jesuíno. O Eric
Marmo é um erro de escalação em qualquer papel.
Ainda na linha elenco dos sonhos, seria uma deliciosa
extravagância se a Sônia fizesse a Sinhazinha. Seria perfeito.
Pra terminar, o começo.
A cena inicial, em 1895, parecia feita na Record. Os
apliques estavam dignos das minisséries bíblicas daquele canal.
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